ENTRETANTO é um clube de relacionamento que usa a fotografia como forma de aproximação pessoal. Cri

terça-feira, 1 de maio de 2012





por Ane M. Molina

Do alimento, da fotografia, do instinto

Fui prá cozinha nos últimos tempos. Sempre gostei de cozinhar e, depois que me separei, me falta público. Me falta companhia, me falta tempo. Mas tem épocas que dou conta. E me faz feliz. Essa coisa toda dos gêneros, prá mim, sempre foi muito clara. Dentro do que acredito e pratico como filosofia de vida, cada qual tem seu papel. Eu acho sim, que a mulher veio ao mundo para alimentar. Para ser mãe. Muitas vezes sem parir a cria. Mas a gente veio para cuidar. Tenho um amigo que diz q sou tooooooda isso. Cuidado. Já o terapeuta, como já comentei outro dia, me acusou de controladora. O pior tipo de controladora e manipuladora. Aquela que manipula e controla através do amor.

Sim, sim, sim! Alimento. Dou de comer. Minha mesa repleta de gente é a minha alegria. Coisa da minha vó. Ir a casa da minha vó e não comer é ofensa. Na minha também. Adoro aquela carinha fofa que me olha e pergunta “tem mais?” Pode ser que tudo seja um feitiço, muito bem feito, prá amarrar as pessoas na minha vida assim. Cozinhando. Vai saber!

Me chamaram prá fazer parte de um projeto que tem a ver com gastronomia. Maravilha! Fotografia e comida. Hmmm… A fotografia e a cozinha se completam. Fotografia Gastronômica é um luxo. Fascina. A cozinha, por si só, já é um ambiente fotogênico. Agora coloque pessoas lá dentro, cozinhando… afemaria!

Carinho, afeto, chamego. Aromas, texturas, sabores. Olhar, desejar, apropriar-se … tudo isso lembra… sexo. Também inevitável! Comida tem a ver com sexo. Fotografia tem a ver com sexo. Uma pessoa no domínio de sua cozinha, nada mais sexy. Uma pessoa olhando prá você, profundamente,  com uma câmera na mão. Idem. Por mais profissionais que nós nos portemos (e no meio da fotografia isso é mais que necessário) a figura do fotógrafo vai sempre carregar essa dose de erotismo. Sempre. E quem vai pra cozinha lidar com todos esses ingredientes, maravilhas sensoriais em pleno processo de transformação, também.

Agora, tente ver tudo isso sem nenhuma sacanagem. Sei, é difícil, mas tente. Somos motivados por coisas, certo? Geralmente por instinto. Na verdade, sendo e nos achando, muito civilizados, tentamos dominar esses instintos o tempo todo. Mas, sendo bem sincera, acho que as melhores coisas que fazemos são aquelas que fazemos instintivamente. Sabedorias milenares orientais afirmam que nossa energia, em essência, é sexual. É essa energia, criadora e pura, que é a gênese de todas as outras forças que nos movem. Faz parte do nosso instinto de sobrevivência. Assim como comer, como alimentar…

Acho que a fotografia tem um pouco disso também. Desse instinto. Dessa coisa instintiva do olhar, do entender, do “propriar-se”, de certa forma, daquilo que se fotografa ou de quem se fotografa. Tem gente que TEM que olhar. Eu sou assim, se me chama a atenção eu olho mesmo. “Gente interessante, se não quer ser olhada, que fique em casa.” Ouvi esses dias. E é mesmo. E isso não tem nada de sexual, na prática. Ninguém vai sair atacando o povo por aí! Mas a gente olha. Sendo fotógrafo, a gente olha mais.

Tudo isso prá falar desse instinto. Dessas coisas que a gente tira, não sei de onde, e que acabam se transformando no nosso trabalho. Essas inspirações. Esses momentos, esses sabores, essa vida que vivemos e que transforma tudo o que tocamos. Sempre acho que poderia estar vivendo mais intensamente tudo e que não estou. Realmente, sorvendo a vida com vontade. Sempre acho que devemos ir além. Essa necessidade vem de mim, passa por mim e acaba na minha fotografia. Essa necessidade de provar, de me aproximar. De “ter” com o que fotografo (como dizem tão bem os portugueses e de quem adotei essa expressão tão elucidativa) “Ter” com quem fotografo. Ter quem fotografo. Pertencimento, vontade, prazer. Tudo em um só momento.

Fotografe, cozinhe e ame. Com vontade!

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